“Trabalho com aquilo que é chamado [pela cultura ocidental] de arte indígena contemporânea”. Esta afirmação do artista Denilson Baniwa, convidado para o curso Transversalidades, desencadeia uma reflexão muito importante sobre a arte. O que nós, nascidos no Brasil, consideramos como arte? A partir de quais padrões definimos a arte?
O artista nos propõe um questionamento mais profundo em torno das concepções de cultura, nação e identidade do Brasil. No país, temos mais de 300 povos indígenas reconhecidos e uma variedade de cerca de 200 línguas nativas. Para além disso, ele relembra que indígena significa “nativo do lugar”, ou seja, somos todos indígenas quando se trata do nosso local de nascimento e da origem de nosso povo. Mesmo assim, a atividade artística de indígenas pertencentes a povos ancestrais do Brasil só é considerada um nicho dentro do que chamamos arte brasileira, ao mesmo tempo em que os próprios indígenas são capazes de criar adotando padrões eurocentristas. Segundo o padrão vigente, eurocêntrico e ocidentalista, a arte indígena é a arte do artefato, é o artesanato.
Pinimasarapayé: o pajé artista
Na visão de Baniwa, o artista indígena contemporâneo é aquele que, por meio de seu trabalho, provoca uma comunicação entre vários universos. Esse artista tem a capacidade de transitar na cultura ocidental e falar a língua oficial, com o intuito de promover um entendimento maior sobre a cultura indígena, em um processo que costuma chamar de cura. É neste sentido que Denilson cunha a expressão “Pajé Artista”. Assim como o Pajé que vive na aldeia, o Pajé Artista é capaz de transitar entre vários universos e tem um profundo conhecimento do cosmos, desempenhando a função de interligar mundos distantes.
Apesar das múltiplas diferenças, a arte ocidental tem um ponto de semelhança com a cultura indígena, que se dá no uso de metáforas para explicar algo que não se comunica tão facilmente. A expressão artística constitui-se, então, como uma ferramenta que permite quebrar as barreiras e expandir o conhecimento sobre as culturas ancestrais, a partir da defesa e da afirmação da identidade dos povos originários do território em que vivemos.
Se você se interessou e pretende pesquisar mais sobre o assunto, segue uma lista de artistas e pensadores indígenas citados por Denilson durante o curso: Jaider Esbell, Isaías Sales – Ibã huni Kuin, Ailton Krenak, Arissana Pataxó, Benky Piyãko, Daiara Tukano e Bu’u Kenedy.