Nos dias atuais, as fotografias ocupam parte do cotidiano de grande parte das pessoas. Estamos conectados com imagens fotográficas durante todo o tempo, seja produzindo ou consumindo, seja nas ruas, em museus de arte ou nas mídias sociais. De modo bastante notório, o século XXI democratizou o acesso às imagens e possibilitou que um maior número de pessoas pudessem experimentar a fotografia de muitas formas, dando abertura para que nos tornássemos fotógrafos e pudéssemos, inclusive, usar a fotografia como uma ferramenta para criar arte.
O dia oito de janeiro é tradicionalmente comemorado como o Dia da Fotografia, e foi pensando em homenagear essa profissão que programamos uma atividade em que a fotografia, aliada à arte, fosse tratada como protagonista. No dia nove de janeiro de 2021, realizamos no CCBB DF uma atividade que uniu imagens em preto e branco, técnicas de colagem e tintas coloridas como instrumentos para dar forma à criatividade.
Para elaborar a atividade, olhamos para a história da fotografia junto à história da arte. Durante a pesquisa, percebemos que alguns elementos fotográficos, como texturas, contornos de formas e perspectivas, foram e ainda são usados nas artes visuais para criar variadas experiências imagéticas.
Entre os pioneiros na incorporação da técnica de aliar fotografias junto ao fazer artístico, figura o artista estadunidense Man Ray (1890-1976). Sua trajetória profissional perpassa retratos tradicionais e, mais adiante, obras artísticas conceituais utilizando a fotografia. Ele foi integrante do grupo Dada e um nome importante para o movimento artístico surrealista. A singularidade de seu trabalho está associada à criação de imagens que não podemos encontrar na natureza, obtidas a partir da experimentação de novas técnicas de revelação fotográfica.
Nas últimas décadas do século XIX, a fotografia já estava se popularizando, porém o maquinário fotográfico só permitia registros em preto e branco. Uma das saídas encontradas pelos artistas da época foi incorporar à fotografia a técnica de pintura a mão, atribuindo às imagens um tom mais realista. Para alcançar esse efeito, muitos pintores passavam sobre as fotografias uma camada de verniz ou goma arábica, e acima dessa camada usavam tinta aquarela ou tinta a óleo.
Um retorno a técnicas tradicionais
Foi com base nessas duas práticas históricas relacionadas à fotografia, que planejamos, em duas etapas, a atividade para o Dia do Fotógrafo. Primeiro, separamos imagens em preto em branco para recortadas e servirem à criação de novas imagens por meio da técnica da colagem, usando como referência as criações artísticas de Man Ray. Depois que os participantes terminassem essa etapa, eles usariam lápis de cor para colorir suas criações, atribuindo à colagem um efeito visual diferente.
No dia da atividade, preparamos algumas estações de trabalho com papel kraft, usado como base para a colagem, várias imagens em preto e branco, cola, tesoura e lápis de cor. Às dez horas da manhã, recebemos um casal com duas filhas adolescentes. Direcionamos a família para a estação de trabalho e demos início à atividade. Ao conversar com eles, descobrimos que o pai tinha sido fotógrafo profissional durante muito tempo. Não por acaso, todos os participantes tinham familiaridade com máquinas fotográficas, o que tornou mais interessante a conversa sobre técnicas de produção de imagens.
Ao falarmos um pouco sobre a história da fotografia, apresentamos a eles algumas técnicas que Man Ray criou em sua “cozinha fotográfica”, possibilitando novos olhares e formatos de imagens. Ao aplicar os métodos da rayografia, da superposição e da solarização, o artista contribuiu para que a fotografia se libertasse do mundo real.
Na segunda parte da discussão, mostramos aos participantes algumas técnicas manuais para colorir fotografias, destacando a singularidade de cada processo e o quanto essas técnicas se desenvolveram ao longo do tempo, justamente para tornar ainda mais real a fotografia. A esse respeito, compartilhamos duas técnicas: a primeira, com o intuito de se desassociar da realidade, e a segunda, de se aproximar do real.
Passamos, então, para a etapa da prática da atividade, quando a proposta era criar imagens usando técnicas de colagem de forma colaborativa. Nossa intenção inicial era que todos contribuíssem de forma efetiva para a composição da obra criada pelo grupo, e felizmente eles logo se entusiasmaram com a ideia, dando início a atividade.
Durante a realização da prática, as filhas relembram dos momentos que atuavam como modelos para que o pai as fotografasse. Cada integrante da família também nos contou o que gosta de fotografar: enquanto a irmã mais velha gostava de capturar paisagens, a mais nova gostava de selfies. Esse momento afetivo nos possibilitou um diálogo sobre como a fotografia é usada de múltiplas maneiras, conforme diferentes contextos, idades e sentidos de criatividade.
No decorrer da atividade, percebemos que eles estavam imersos no universo de criar novas imagens, estabelecendo-se uma troca generosa entre nós e grupo. Mais adiante, a empolgação foi tamanha que eles perguntaram se poderiam usar tintas para compor suas criações. Demos ao grupo, então, algumas tintas nas cores amarela e vermelha, e eles preencheram os espaços vazios do papel usando linhas que conectavam uma fotografia à outra. Ao final do processo, eles decidiam em que lugar da casa o painel poderia ser colado como lembrança.
Em síntese, a atividade especial do Dia do Fotografia permitiu que a história da fotografia fosse tratada a partir de uma nova roupagem, revelando novas possibilidades de se fazer arte com algo usual, que temos na palma das mãos cotidianamente. Essa atividade permitiu a junção entre uma experiência artística colaborativa e o aprendizado de novas técnicas fotográficas.