Em um fim de tarde de agosto de 2019, o Programa CCBB Educativo – Arte & Educação recebeu o convidado Daniel Toledo para mais uma edição do Laboratório de Crítica. Inicialmente, Daniel nos instigou a refletir sobre a origem da palavra crítica, associada à ideia de “crise”, ou ainda de “colocar em crise”, e a partir daí propôs uma mistura de sentidos, ao defender a crítica como reflexão – e não propriamente um julgamento. Ainda na primeira parte da atividade, o pesquisador estimulou que os participantes do encontro se apresentassem, aproveitando alguns dos depoimentos para trazer apontamentos, percepções e inquietações sobre o que pode ser a crítica e as suas múltiplas funções sociais.
Em seguida, o pesquisador compartilhou dois textos de sua autoria, “Para atravessar o fosso” e “Arte, Crítica e Promiscuidade”. Enquanto o primeiro toma como referência o episódio da escultura “Tilted Arc”, de Richard Serra, instalada numa praça pública em Nova York e removida alguns anos depois, após protestos da comunidade local, o último problematiza o trânsito entre as funções de artista e crítico de artes, contribuindo para romper separações típicas da modernidade.
Ao longo dessas leituras, ele lançou aos participantes do encontro uma série de questões, desdobrando ainda algumas das reflexões levantadas durante o momento de apresentação e introduzindo algumas outras. Como entender a emoção dentro da crítica? Como pensar a crítica como um diálogo e não um discurso? Como escrever críticas a partir de uma obra e não sobre uma obra? Como levamos à crítica o que pensamos a partir de um trabalho artístico? As redes sociais podem ser entendidas como um espaço para a crítica?
Além dessas, surgiram muitas outras questões, contribuindo para um entendimento da crítica como uma força de aproximação entre o público e a produção artística, e não somente um discurso. Desse modo, a crítica se torna um instrumento para diminuir os fossos entre os múltiplos elementos que compõem o sistema da arte.
Para aproximar arte e vida
Tomando como referência o livro “O Crítico Ignorante”, da crítica de teatro e pesquisadora Daniele Ávila Small, o convidado nos apresentou ainda a dois conceitos: a crítica polícia e a crítica política. Enquanto a primeira se aproxima do julgamento, a última se propõe a deslocar sentidos e conceitos, assim como construir novos sentidos, provocar deslizamentos e abrir caminhos. À crítica política são ainda associados o fomento à criação e não necessariamente ao mercado, assim como críticas de processos de criação. Ao redigir uma crítica, portanto, devemos refletir sobre quais aspectos vão ficar visíveis a partir dos nossos valores e desejos. Fazer crítica pode ser entendido como fazer aproximações.
Durante essas aproximações, podemos pensar, por exemplo, como trazer outras vozes para a crítica e propor, assim, a constituição de espectadores-sujeitos, artistas-sujeitos e críticos-sujeitos. Podemos criar modos de fazer que sejam pensados em comunidade, assumindo atitudes de conversa, de troca, e não necessariamente de discurso. É como se, ao assistir a um espetáculo teatral, assistíssemos também à plateia, e não somente o palco, entendendo que não há um abismo entre os dois.
A partir da leitura de um terceiro texto, intitulado “Nos-otros” e inspirado por teorias e conceitos decoloniais, a atividade chega a seu fim, e o que fica são perspectivas apontadas em um sentido de escuta. A crítica pode apresentar, nesse sentido, a potencialidade de escutar os silenciados, trazer à vista os invisibilizados. Pode ser um espaço para identificar o que falta, aprofundar o que parece ingênuo e também ressaltar o que está emergindo, abrindo espaços e ressignificando-os.
Então, o que você pensa sobre isso?