Atualmente, no mundo todo, 280 milhões de pessoas moram em países diferentes daqueles onde nasceram. Esse conjunto considera tanto aqueles que mudaram de sua terra natal voluntariamente, em busca de uma vida melhor, como também os que foram obrigados a deixar suas casas em razão de conflitos, guerras e situações de miséria. Não é de se espantar, portanto, que esse tema esteja no trabalho do artista chinês Ai Weiwei, um dos principais nomes da cena contemporânea internacional, cujos trabalhos deram origem à mostra “Ai Weiwei Raiz”.
Durante a passagem pelo CCBB BH, a exposição serviu como pano de fundo para mais uma edição do Com a Palavra, dentro da programação do Programa CCBB Educativo – Arte & Educação, conduzida pelo economista – e “dublê de demógrafo” – Duval Fernandes. Estabelecendo um diálogo com sua pesquisa em refúgio e migração internacional, ele mediou uma visita do público destacando obras em que a mesma temática se fazia presente.
“A grande maioria dos trabalhos presentes na exposição foram feitos a partir de 2015, quando o artista passa a se preocupar com questões relativas aos refugiados. Ele aborda a migração internacional sob o aspecto do refúgio e também de suas demandas na atualidade: os motivos que levam à saída de um determinado país, o trajeto para chegar em outro lugar e ainda o que se encontra ao chegar em uma terra estrangeira – em geral, um acampamento sem estrutura e, novamente, o conflito”, comenta Duval.
Da Turquia ao Brasil
Uma das galerias da exposição reúne fotografias produzidas pelo próprio Ai Weiwei, e, em uma delas, o artista reproduz a foto do menino Aylan Kurdi, cujo corpo encontrado em uma praia da Turquia foi amplamente divulgada e causou consternação ao redor do globo. “Esta imagem, feita por Weiwei, se tornou polêmica, mostrando que a Europa – e também o mundo – não estava preparada para encarar essa visão novamente por conta das responsabilidades que estavam em jogo”, analisa o pesquisador.
Além de reunir trabalhos icônicos, “Ai Weiwei Raiz” também é fruto de um convite feito ao artista para desvendar a cultura brasileira e moldar objetos que representassem a biodiversidade, a paisagem humana e a criatividade local. Referindo-se à realidade brasileira, Duval Fernandes compreende que a questão dos refugiados não chega a ser alarmante como em outras partes do mundo, mas também não é um tema a ser ignorado. “No nosso caso, temos os demandantes de refúgio – mais de 100 mil. Primeiro, os haitianos, e agora os venezuelanos. Por conta disso, vemos algumas manifestações de xenofobia na sociedade e na política. Trata-se de uma crise da humanidade, e não de um país”, analisa.