É muito provável que você já conheça algum podcast, que seja ouvinte ou então tenha recebido de algum amigo a recomendação de uma série que “precisa ouvir”. O fato é que a onda de podcasts tem chegado com tudo e se tornado cada vez mais um hábito cultural relacionado ao consumo de diversos conteúdos. Seja para se informar sobre as notícias e a política, para descontrair com humor e entretenimento ou ainda para conhecer e se aprofundar em novos assuntos, os podcasts têm entrado na rotina de muitas pessoas no caminho para o trabalho, durante uma faxina ou em momentos de descanso, valendo-se de um formato permite ao ouvinte fazer ações simultâneas enquanto curte sua série.
Diante desse contexto, a edição de junho de 2021 do curso Processos Compartilhados recebeu o jornalista Tiago Rogero para uma oficina sobre podcasts. Ao longo do encontro, Tiago compartilhou sobre sua experiência na área, abordando as principais etapas que compõem a produção de um podcast, tais como concepção, gravação, publicação e divulgação. Tendo como objetivo instrumentalizar o público para a produção de podcasts de qualidade utilizando poucos recursos, o convidado apresentou algumas estratégias para concretizar ideias e aprimorar nosso senso crítico sobre os conteúdos produzidos.
A esse respeito, vale lembrar que os podcasts têm origem no rádio, porém reformulando sua linguagem para nossos atuais padrões de consumo. Entre suas principais vantagens, figura certamente a autonomia do ouvinte em escolher qual episódio deseja escutar e qual o melhor momento para ouví-lo – sem depender de uma programação já estabelecida. Além disso, as diversas plataformas de publicação de podcasts – ou tocadores – permitem o constante surgimento de novos produtores de conteúdo, que acrescentam ao campo suas ideias, seu senso crítico e uma inesgotável gama de pautas a serem amplificadas. Segundo uma matéria publicada na revista Exame em abril de 2021, a estimativa é que hoje o Brasil tenha 34,6 milhões de ouvintes de podcast, o que equivale a cerca de 8% da população – e a tendência é crescente. Enquanto isso, dados de interesse de busca pelo termo “podcast” no Google, tanto no Brasil quanto globalmente, demonstram essa marcante ascensão.
Sobre a oficina
Para começar, Tiago Rogero nos contou ter iniciado seu aprendizado sobre podcasts a partir de um curso online e gratuito. Trabalhando como jornalista, ele então decidiu dedicar seu tempo livre à produção do podcast Negra Voz, no qual trabalhou com muito empenho e ainda sem retorno financeiro. Após muito trabalho, o programa foi lançado em 2019 e, no ano seguinte, lhe rendeu o 42º Prêmio Vladimir Herzog, uma importante premiação da área jornalística. Hoje, Tiago tem sua produtora de conteúdo, além de roteirizar e apresentar a série Vidas Negras, podcast que celebra a trajetória e a obra de personalidades negras históricas e contemporâneas.
Ainda no início da conversa, Rogero explicou que os podcasts podem ser categorizados em diversos gêneros, a saber: mesa redonda, narrativo solo ou documentário, entrevista, ficção e humor. O podcaster ressalta, entretanto, que nenhum gênero é superior a outro: trata-se de propostas e formatos bastante distintos, direcionados a públicos diferentes.
Mais adiante, o convidado sugeriu diversos equipamentos e ferramentas que podem ser usados em cada uma das etapas de construção de um programa. Para gravar os conteúdos, podem ser usados telefones celulares ou gravadores, assim como ferramentas como Zoom, Whatsapp e Zencastr – essas últimas mais apropriadas aos casos de gravação à distância. Para editar os conteúdos, há ferramentas disponíveis como o Audacity e o Soundtrap. Para hospedá-los, Rogero indica o Anchor. Para escolher a trilha sonora e os demais efeitos, destaca ele, há uma série de bancos gratuitos, como o Youtube Studio e o Free Music Archive. Um bom recurso para criar a identidade visual e os materiais de divulgação é o Canva. Segundo o convidado, também é importante criar um site onde o conteúdo é reunido e disponibilizado ao público, usando ferramentas como Adobe Spark, WordPress, Wix ou ainda um Linktree.
E quais são as etapas de criação e publicação de um podcast?
Para responder a essa pergunta, o jornalista esquematizou cinco momentos importantes que devem ser considerados:
1° – Pensar: refletir se o podcast é o melhor meio para compartilhar o conteúdo que você pretende produzir – e pesquisar outros podcasts como o mesmo tema pode ajudar nisso;
2º – Definir: escolher o tema, o formato, a audiência, o tempo de duração, a periodicidade e o nome – considerando da importância de garantir esse último nas redes sociais;
3º – Piloto: testar e colocar em prática a ideia, lembrando que ainda não é o momento de publicá-la – antes disso, envie o piloto para pessoas de confiança que possam opinar com sinceridade e tenha abertura a mudar e aprimorar seu produto o quanto for necessário;
4º – Teaser: produzir uma peça semelhante aos trailers usados para a divulgação de filmes e séries, publicando-o em todas as plataformas com antecedência de pelo menos duas semanas em relação ao lançamento do produto final;
5º – Publicar: sobre essa etapa, Rogero estimula a coragem e a abertura à experimentação: “Não tenha medo, não precisa estar perfeito”.
Atenção aos detalhes
Ao falar um pouco mais sobre as partes que compõem a produção de um podcast, Tiago Rogero destaca que o roteiro é um elemento essencial e que os narradores e narradoras devem, preferencialmente, optar por palavras simples. No que se refere à trilha sonora, ele recomenda que em hipótese alguma se use músicas sem autorização. Além disso, há a possibilidade de incorporar efeitos sonoros e podem ser incorporados áudios de filmes, rádio e televisão. A construção sonora de um podcast pode ser relacionada à música: precisa ser pensada como uma composição, trazendo ritmo e também momentos de silêncio.
Algumas técnicas relacionadas ao momento da gravação também foram mencionadas pelo convidado: deixar sempre o celular no modo avião, para evitar interferências de ondas; gravar diretamente no microfone do celular, evitando o uso de fones de ouvido; e posicionar o aparelho à distância de um palmo da boca, para que se mantenha a qualidade da captação. Também é recomendável, segundo ele, buscar o local mais silencioso do local usado para gravação, tomando cuidado com barulhos aparentemente “imperceptíveis”, tais como os produzidos por ventiladores e aparelhos de ar condicionado. Outra estratégia importante é usar tecidos, cobertores e travesseiros, garantindo a qualidade acústica do ambiente e evitando o surgimento de eco. Outra dica importante ao narrar é falar como se estivesse contando a história para alguém à frente, de modo que a leitura do roteiro fique menos evidente.
Quando o programa está pronto, tem início outra etapa muito importante: a divulgação. Segundo o convidado, as redes sociais têm se mostrado um canal eficiente para apresentar o projeto e engajar o público – e a produção de fotos dos bastidores pode gerar um ótimo conteúdo para as redes. Rogero recomenda também a busca por parcerias com outros podcasts, assim como o uso do whatsapp com mensagens estruturadas que incluam o link de acesso ao podcast.
Mas como tornar o projeto viável financeiramente? A esse respeito, Rogero alerta que o retorno financeiro não é fácil ou imediato: muitos profissionais, como ele próprio, dão início ao trabalho dedicando seu tempo e seus recursos pessoais até conseguir um financiamento. Entretanto, algumas das maneiras de se conseguir contribuições, segundo ele, são vaquinhas virtuais e patrocínios diretos, além de bolsas oferecidas por fundações e empresas jornalísticas.
Para finalizar, Tiago Rogero deixou mais algumas dicas de ouro para quem está iniciando: Faça! Não tenha medo de errar e saiba que a persistência fará com que você melhore a cada novo episódio. Ouça outros podcasts para ter referências. Não desanime, pois a audiência demora a ser construída. E lembre-se: um podcast nunca será consumido por todos,o importante é ser significativo para quem o escuta e cumprir seu propósito – por isso, a importância de definir seu público alvo. Seja autêntico e criativo. Inspire-se, mas crie algo seu.