Ao longo de 2018, a exposição “Ex África” circulou por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. Trazendo um amplo panorama da arte africana moderna e contemporânea, a mostra reuniu trabalhos de 18 jovens artistas africanos, nascidos em diferentes regiões do continente, além de obras dos brasileiros Dalton Paula e Arjan Martins. Durante a passagem da mostra no CCBB-SP, o Com a Palavra… recebeu
o cantor e compositor maranhense Negro Léo para
conduzir uma visita à exposição.
O artista inicia a visita pelas telas cartográficas de Arjan Martin, ressaltando as caravelas e coroas de cabeça para baixo, assim como os eixos confusos e tortos como signos de uma inversão do projeto colonial. Em seguida, conduz o público à série de auto-retratos de Omar Victor Diop, artista senegalês, que compõe as imagens com instrumentos ligados ao futebol: luva, bola, apito e cartão vermelho – todos advindos do processo de colonização. Na sequência, percorrem objetos que remetem à sedutora aproximação dos países europeus em relação às nações africanas, para ao final revelar instrumentos de tortura associados ao futuro da violenta relação estabelecida entre os continentes.
Passado-presente
“Vemos repetidas vezes, em sequência, em quase toda a exposição, trabalhos de caráter retrospectivo, que expõem e questionam um passado abominável, mas que ainda é uma herança presente, uma história que não se resolveu. É preciso colocar essas questões o tempo inteiro à luz porque as coisas ainda não melhoraram. Mas o agora é o momento no qual podemos intervir”, observa o convidado.
Como exceção dentro da seleção de trabalhos, a sala de música da Nigéria é apontada por Negro Léo como a sala da “potência”. “A única representatividade de trabalhos de arte contemporânea africana que não faz nenhuma tentativa de resgate. Evidentemente, eles se reportam à alguma memória indesejável ou até desejável. Mas o foco é só o presente – música para hoje com as questões de hoje, de agora”.