Já há algum tempo, muita gente acredita que, diante de um processo patológico instalado no corpo, temos que buscar ajuda na medicina biológica, ou ainda medicina biológica integrativa. Essa crença não deixa de ser verdade, sendo reconhecida inclusive pela medicina moderna, que a associa ao chamado processo de “saúde-doença”. Nesses processos, o que se necessita é uma equipe multidisciplinar cujo objetivo é tratar o indivíduo como um ser biopsicossocial.

Mas a que se referiria essa nova nomenclatura? Em linhas gerais, trata-se de afirmar que uma pessoa com um processo patológico não pode ser considerada somente segundo a patologia em si. Pelo contrário: deve-se levar em consideração os aspectos biológicos (genéticos, bioquímicos etc.), fatores psicológicos (estados de humor, personalidade, comportamento etc.) e fatores sociais (culturais, familiares, socioeconômicos, médicos etc.).

Essa nova abordagem em saúde prevê inclusive a arte, os hobbies e o lazer como alguns dos fatores que atuam sobre os processos de saúde-doença vividos por um indivíduo. Por esses e outros motivos, o CCBB SP recebeu em fevereiro de 2020 uma oficina de desenho com o tema “Prevenção ao Câncer Infantil”, ministrada pelo artista Thiago Judas, dentro do Programa CCBB Educativo – Arte & Educação. Ao longo da oficina, a mesma questão foi abordada de maneira simples como um meio de sintonizar e canalizar nossas energias para concretizar tarefas artísticas como a pintura.

Ressignificações

A atividade se iniciou com uma dinâmica de apresentação dos participantes. Depois disso, Thiago nos orientou sobre as forças e energias físicas que possuímos, usando para isso um vídeo explicativo sobre o processo de concentração e as capacidades associadas a essa habilidade. Entre os exemplos trazidos pelo vídeo, testemunhamos a ação de mestres japoneses que, em visível estado de concentração, fazem o corte de vários bambus com um único golpe de espada.

Posteriormente, os participantes do encontro se posicionaram em frente a uma folha em branco, munidos de pincel e tinta preta. A orientação do artista foi que fechássemos os olhos e nos concentrássemos no peso de nossos próprios corpos, tentando alinhar nossos centros de gravidade. Em seguida, Thiago nos aconselhou sobre o contato entre o pincel, a tinta e a folha: uma vez em contato com a folha, era necessário esperar uma fala do artista para começar o traço, assim como para poder afastar o pincel da superfície da folha. Após essa ação, foram observados com surpresa os diversos tipos de traços artísticos resultantes das mesmas diretrizes. 

Diante dos resultados distintos alcançados a partir do mesmo procedimento, o artista nos orientou a ressignificar os primeiros traços. Dessa vez, no entanto, seria possível utilizar tintas de cores primárias. No decorrer dessa etapa, Thiago se mostrou atento ao trabalho individual de cada pessoa, passando orientações ao mesmo tempo em que indagava os participantes sobre suas próprias criações, estimulando-nos a transitar entre diferentes técnicas e evitar certa tendência ao que chamou de “robotização”.

Ao longo da atividade, fomos constantemente estimulados a transformar nossas percepções sobre formas, traços, olhares e ações. A partir desses estímulos, de forma que nossa energia modifique a interpretação do mar de informações em que vivemos, superando supostas polaridades entre o que é bom ou ruim.