Convidado para conduzir o uma visita à exposição de Athos Bulcão, o artista autodidata Alexandre Mancini foi o anfitrião de maio de 2018 em mais uma edição do Com a palavra…
na programação do CCBB BH.
A visita tem início a partir das obras gráficas de Bulcão, uma parte de sua obra menos reconhecida que os azulejos, porém, na visão de Mancini, com igual importância na formação de sua visão artística: são capas de revistas, discos e livros, além de lenços e figurinos que representam o momento em que o artista descobre sua vocação.
Em seguida, ao percorrer as telas, o artista destaca a dimensão pessoal envolvida na pintura. “Esse era um trabalho realizado com as próprias mãos, enquanto a produção de azulejos, esculturas e relevos era feita por terceiros”, afirma, entendendo também esse grupo de trabalhos como processos de estudo e entendimento pessoal da arte, regidos por uma lógica distinta em as forma se mantêm, porém com mais liberdade. Como características presentes na obra de Bulcão, Mancini destaca humor fino, timidez e serenidade.
Na visita às composições com azulejos, Mancini ressalta detalhes como a paleta de cores simples que Athos utilizava, em diálogo com a empresa do Rio de Janeiro que até hoje os produz utilizando exatamente as mesmas cores. “Seus projetos, estudos de composição com azulejos, chamam também bastante atenção por serem feitos numa época em que não havia programas de computador especializados, o que tornava mais difícil prever o resultado da obra”. Outro aspecto pontuado pelo artista refere-se à aparente aleatoriedade presente na obra de Bulcão, ao final sempre regida por uma certa ordem, negociada com o mestre de obras que iria executá-la.
Alexandre Mancini chama atenção à excepcionalidade que a situação da construção de Brasília ofereceu a artistas como Oscar Niemeyer e Athos Bulcão, entre muitos outros. “A construção de palácios, casas e prédios, em um trabalho de arquitetura com a contribuição de artistas, foi uma chance única na história, permitindo a produção em uma escala inimaginável”, defende, reconhecendo Bulcão como um artista capaz de ligar a arte de origem modernista a modos de composição que exercem, até hoje, grande influência sobre as novas gerações de artistas.