A atividade educativa Processos Compartilhados é um encontro destinado a discutir os múltiplos conceitos e estratégias que abrangem o universo da produção em arte, dentre os quais a curadoria, a expografia, a produção e outras discussões relacionadas ao fazer artístico. Para a edição de outubro de 2019, o Programa CCBB Educativo – Arte & Educação convidou ao CCBB BH o arquiteto Fernando Maculan para compartilhar suas práticas e convocar os participantes a uma experiência compartilhada em expografia.
O encontro teve início com uma conversa sobre dimensões práticas e conceituais que afirmam a expografia como uma atividade reflexiva e até mesmo política, assim como perpassou diálogos sobre o fazer artístico e as múltiplas possibilidades de vivenciar obras de arte. Posteriormente, o convidado propôs uma atividade visando colocar em prática as discussões realizadas do primeiro momento.
Ao longo da conversa inicial, Maculan apresentou alguns aspectos políticos e conceituais do diálogo entre arte e arquitetura, tomando como referência o livro “Concreto e Cristal: O acervo do MASP nos cavaletes de Lina Bo Bardi”, organizado pelos curadores Adriano Pedrosa e Luiza Proença. Partindo de imagens da publicação, o convidado destacou aos participantes o caráter transformador dos famosos “cavaletes de cristal” ou “cavaletes de vidro”, projetados pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi para a expografia original do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), inaugurado em 1968.
A partir de um diálogo intencional com a arquitetura do prédio, também ele uma forma suspensa no ar, os cavaletes de Lina Bo Bardi apresentam materiais simples e ao mesmo ousados, fixando as telas em retângulos de vidro com o apoio de cubos de concreto. Retomados pela instituição em 2015, após um longo hiato, os suportes permitem que as obras sejam exibidas como se estivessem flutuando no salão do museu, convidando, então, os visitantes a construírem seus próprios roteiros de vivência com as obras.
A obra de arte e a arquitetura das instituições
Partindo desse princípio renovador para a expografia no Brasil, Maculan compartilhou com os participantes algumas produções autorais que, a exemplo dos cavaletes de Lina, propõem diálogos entre arquitetura e obras de arte. Destacando projetos expográficos realizados em interlocução direta com artistas e obras, o arquiteto chamou atenção à instalação “Hídrica: Episódios” (2012), da artista Nydia Negromonte, criada para a 30ª Bienal de São Paulo, e à obra “Vitruvian Figure” (2018), do artista Paul Pfeiffer, em Inhotim.
Ao tratar de ambos os trabalhos, o arquiteto nos falou sobre a grande importância do diálogo construído com os respectivos artistas e instituições. Seja pela necessidade de uma intervenção hidráulica no pavilhão da Bienal de São Paulo por conta da obra “Hídrica: Episódios”, ou ainda pela construção das vias de acesso à instalação “Vitruvian Figure”, no museu aberto Inhotim, a discussão sobre conceito de expografia, pelo olhar do convidado, se expandiu em direção a várias camadas políticas de acesso e inclusão, incitando uma visão da montagem como uma parte integrante e importante dos processos de construção de obras de arte.
No segundo momento do encontro, os participantes foram convidados a criarem seus próprios projetos expográficos. Partindo de materiais como compensados de madeira de 25mm, mini lanternas de Led e pequenos bonecos de Lego e Playmobil que serviram como referência de escala humana, os participantes criaram ambientações para vivenciar possíveis obras de arte. A partir desta materialidade, foi possível trabalhar conceitos de espacialidade e iluminação em meio a uma proposta descontraída e envolvente. Depois desse primeiro exercício criativo, Maculan sugeriu que os as propostas criadas em dupla ou individualmente se reunissem em um único projeto coletivo, dando origem a um grande complexo expográfico.
Nesta edição do curso Processos Compartilhados, Maculan nos trouxe perspectivas do fazer expográfico como uma atividade intrínseca ao fazer artístico. Desde o contexto histórico e emblemático dos famosos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi aos exercícios e experimentações espaciais com os materiais para a construção de projetos pelos participantes, pudemos perceber o caráter reflexivo, criativo e até mesmo político no que tange a criação de múltiplas atmosferas que decerto podem potencializar nossas vivências com obras de arte.