Em geral, quando lidamos com a ideia de educação, tradicionalmente somos levados a pensá-la em associação com escolas e universidades, sejam de natureza pública ou privada. Muito embora esses espaços institucionalizados sejam de grande importância para a nossa formação, eles não são os únicos que devem ser entendidos como formativos e agregadores de conhecimento. É essa visão que defende a professora Juliana Gama Izar no curso Transversalidades, realizado em março de 2019 no CCBB SP.
Mestre em Pedagogia pela Universidade de São Paulo, ela conduziu o encontro com professores e educadores para pensar, de forma ampliada, sobre os diversos espaços que a educação abrange. Partindo de uma abordagem histórica, a pedagoga se volta aos primórdios da civilização humana para localizar o que, àquela altura, se poderia entender como educação. “No princípio, o que acontecia era uma prática baseada nas experiências e na oralidade, passadas de geração em geração. Além disso, o conhecimento era muito pautado pela sobrevivência, ou seja, se eu sei de algo que garante a minha existência, vou transmitir isso para os meus pares e, principalmente, aos herdeiros”, analisa.
Posteriormente, essa maneira de ensinar passou a ser responsabilidade da família nuclear, que estabelecia a maneira como os mais jovens seriam formados. Naquele momento, a educação ainda não era tida como um direito universal, sendo acessada somente pelas camadas mais privilegiadas da sociedade, principalmente nobres e burgueses. “Com o processo de industrialização, percebeu-se a necessidade de educar operários para aperfeiçoar a produção. Isto é: todos devem receber uma formação mínima para desenvolver, produzir e, por fim, gerar lucro”, analisa Juliana Gama Izar, em referência a um processo histórico que teve início ainda no século XVIII, na Europa Ocidental.
Se considerarmos o Brasil, no entanto, o reconhecimento da educação como um direito básico, segundo ela, acontece somente no século XX. A partir desse momento histórico, o Estado passa a gerir uma série de instituições de ensino que ganham o caráter público. “É nesse contexto que ela se torna uma ciência digna de estudos e análises, e passa a ser delimitada em três grandes categorias: informal, formal e social.”
Educações
A amplitude dos processos educacionais serve como lastro para uma série de pensadores determinarem que não existe “Educação”, mas sim “Educações”, associadas a diferentes aspectos do cotidiano dos seres humanos, em diferentes épocas, sociedades e contextos sociais. “Trata-se de uma característica inerente, e é o que nos difere diante de outros seres vivos”, pontua. A primeira categoria apresentada pela professora Juliana Gama Izar é a Educação Informal. “Ela é espontânea, baseada no exemplo e no empirismo. É livre e se forma a partir das relações entre humanos, não correspondendo a metodologias de ensino”, explica. Juliana ressalta ainda que essa educação é desenvolvida fora do âmbito institucionalizado de ensino, especialmente em espaços de atividades culturais, com a família, amigos ou grupos de interesse comum.
Conforme destaca a pesquisadora, autores como Carlos Rodrigues Brandão associam a Educação Informal ao processo “livre” de transmissão dos saberes, tais como a fala comum a um dado grupo e as tradições culturais características às diversas comunidades presentes em uma sociedade. O pedagogo suíço Pierre Furter, por sua vez, considera a Educação Informal como todo e qualquer processo educativo ocorrido em instituições que não pertençam às redes escolares de ensino – dentre as quais escolas federais, municipais e estaduais, além de escolas privadas credenciadas pelos órgãos educacionais competentes.
Sistemas de ensino
Já a Educação Formal, por sua vez, é a que ocorre a partir de um sistema de ensino tradicional. “Ela responde a um conjunto de regras, leis e normas – ou seja, ao Estado, que cobra dela a sua prática. Além disso, diz respeito a uma hierarquia organizacional e obedece a todo um regimento para se tornar um ato educativo”, pontua.
Segundo Juliana, por estarem inseridos em uma instância mais ampla da sociedade, os espaços voltados para a educação geralmente agregam à experiência de cada indivíduo o contato com diversidade cultural, étnico racial, etária, socioeconômica, de gênero e religião. Portanto, seu papel social não é simplesmente ensinar, mas transformar, possibilitando que indivíduos “saiam de seus núcleos familiares para conhecer o mundo”.
Por definição, a Educação Formal é desenvolvida nas escolas, a partir de conteúdos previstos e demarcados. Além disso, ela tem como objetivo o ensino e aprendizagem de temas historicamente sistematizados, que “preparam o indivíduo para atuar em sociedade como um cidadão ativo”.
Ao final, Juliana cita ainda a Educação Social, que nasce especialmente nos contextos em que a Formal não consegue chegar, e cujo objetivo é alcançar populações que estão à margem das instituições tradicionais. “Buscamos esse público justamente para que eles se reconheçam como cidadãos. Essa educação se estende a crianças em situação de rua ou que estão em abrigos; a pessoas presas ou privadas de liberdade por outros motivos, e assim por diante. É uma atividade planejada, que muitas vezes dá mais trabalho do que a Educação Formal, porque não tem como você fazer um trabalho sem um reconhecimento do local, do contexto. Por outro lado, se ela não dá certificados, certamente transforma vidas”.